E mais um oito de março foi marcado pelas comemorações do dia internacional da mulher, com muitas flores, chocolates, belas mensagens e homenagens, mas sem feriado, sem folga, sem pausa na violência, no cansaço, na desvalorização e na desigualdade.
Entretanto, hoje não vou discorrer somente sobre a realidade escura, pesada e dolorosa, do gênero feminino. Afinal, estamos no caminho rumo às mudanças. Nem tão pouco sobre a origem dessa data e todas as lutas impressas através de décadas e décadas, das que nos precederam, ainda que registrando toda a minha reverência a cada uma delas.
Vou abrir alas aos EXCESSOS e à CORAGEM.
Segundo Brené Brown*, “É preciso coragem para ser imperfeito(a). Aceitar e abraçar as nossas fraquezas e amá-las. E deixar de lado a imagem da pessoa que devia ser, para aceitar a pessoa que realmente sou. Nós não podemos aprender a ser mais vulneráveis e corajosos por conta própria. Muitas vezes nossa primeira e maior ousadia é pedir ajuda.”
Em minha rotina de convivência com mulheres, seja como advogada, como amiga, mãe de uma preciosa menina mulher, “boadrasta” (e como mulher), percebo o senso comum dos excessos.
Excesso de auto-cobrança pela forma ideal, pela pele perfeita, o cabelo dos sonhos, corpo “padrão”, equilíbrio perfeito nos castigantes saltos altos, roupas da moda, contas pagas, metas alcançadas, mais e mais especializações profissionais, filhos(as) estruturados(as), unhas feitas, “good vibes” e “beach tênis” em dia, sexualidade à todo o vapor e, ainda não bastasse, uma corrida tão desleal quanto cansativa pela valorização no mercado de trabalho.
Com várias jornadas durante um dia, muitas ainda seguem chegando em casa, acompanhada dos “deveres” com filhos, companheiros(as), pais idosos, afazeres do lar e por aí vai (banho demorado, é luxo).
Sim, é preciso muita coragem para ser e existir como mulher.
Coragem para se permitir estar cansada, para comer um doce sem culpa, para respeitar as dores e instabilidades próprias da nossa natureza. Para assumir seus erros, com valentia e humildade.
Coragem para pedir ajuda, para falar não sei, não quero, não concordo, não vou, não estou disposta ou, não gosto que me interrompa ou invalide minha fala.
Tomando o amor próprio e o auto-cuidado como exercícios de aprendizado e treinamento diários, convido a todas as mulheres que nesse momento me lêem, a refletirem sobre quando foi a última vez que se permitiram passar um tempo “sem fazer nada”, quando foi a última vez que se priorizou, qual foi a última vez que se permitiu receber um carinho, uma atenção, um elogio, sair com as amigas ou mesmo sozinha para se divertir, conseguiu ler aquele livro que ganhou no Natal de 2013 ou tomou uma taça de vinho cantando Madonna, enquanto regava lembranças dos anos 80 ou 90. Qual foi seu último NÃO sem desculpas, que te permitiu dormir sem remédio? Numa escala de auto-respeito, onde você tem se colocado?
Pedir ajuda faz parte, aprender a se ouvir, treinar o falar NÃO para se preservar, sentir-se amada, deliberar limites, aprender a se posicionar com a famosa “enérgica doçura”, reconhecer, acolher as nossas vulnerabilidades como fase do processo, é mister. De tempos em tempos, se dê um tempo!
A propósito, você conhece suas vulnerabilidades, já “parou” para pensar sobre o assunto? Ainda com a licença de Bené Brown,
Quando fingimos que podemos evitar a vulnerabilidade, tomamos atitudes que são, muitas vezes, incompatíveis com quem nós realmente desejamos ser. Experimentar a vulnerabilidade não é uma escolha – a única escolha que temos, é como vamos reagir quando formos confrontados com a incerteza, o risco e a exposição emocional.”
E é através do auto conhecimento, e só dele, que vamos nos resgatando e conquistando a dignidade de existir sem sermos subjugadas. Respira, vale cada derrapada na curva!
Afinal, como disse essa admirável Mulher:
“Não há limite para o que nós, como mulheres, podemos conquistar” – Michelle Obama, advogada e ex-primeira dama do EUA
Sigamos! Com todos os sentidos a nosso serviço: nos ouvindo mais, nos enxergando com mais compaixão, tateando a vida ao nosso tempo, sentindo perfumes novos e nos lambuzando com as delícias de sermos MULHERES.
TELMA APARECIDA RODRIGUES. Advogada de Mulheres e Famílias. Presidente da Comissão da Mulher Advogada 48 subseção Divinópolis. Presidente da Associação Meu Amar. Membro da Comissão de enfrentamento à Violência Doméstica da OAB/MG