O mundo virou de ponta cabeça e esse tem sido o refrão familiar nos dias de hoje.
Afinado no mesmo tom, Anthony Giddens, sociólogo britânico, afirma: “Para o bem ou para o mal, somos impelidos rumo a uma nova ordem global que ninguém compreende plenamente, mas cujos efeitos se fazem sentir sobre todos nós: a globalização”. E nesse contexto, é preciso considerar que a globalização tem a ver com a tese de que agora vivemos todos em um mundo único.
E o que a nova identidade feminina e/ou a mulher do século XXI, tem a ver como a globalização? No viés dessa nova ordem global, também impulsionada pela chegada avassaladora da internet, uma nova mulher se apresenta no contexto social, familiar, econômico e político nesse março de 2024.Sem a menor intenção de definir o indefinível, já que os abismos sociais e estruturais do patriarcado ainda teimam em nos distanciar, arrisco sugerir que estamos freneticamente no ensaio do equilíbrio dos “vinte e um pratos”, acumulando tarefas, realizadas e felizes por vezes, exaustas por tantas outras.
O desenvolvimento feminino deixou de ser secundário. Saímos das varandas e calçadas, cruzamos fronteiras antes proibidas e ganhamos o mundo. Hoje as mulheres são fundamentais no crescimento econômico mundial, muitas deixaram o anonimato e assumem, agora, lideranças no mundo corporativo, acadêmico, político, etc. Estamos conquistando, ainda que em ritmo insatisfatório, direitos, espaços e lugares de fala.
Mas ainda há muito espaço a conquistar. Muitos!
O envolvimento feminino em todas as esferas da vida social, política, econômica e cultural é essencial para a riqueza de perspectivas e inovações. Essa ação, acaba impulsionando consideravelmente o crescimento econômico, muito embora o 10º relatório anual da instituição sobre Mulheres, Negócios e Direito tenha mostrado que as mulheres têm, em média, apenas 64% das proteções legais que os homens têm, e não os 77% estimados anteriormente, e nenhum país — nem mesmo os mais ricos — oferecem oportunidades verdadeiramente iguais. Ou seja, somos teimosas.
Desistir nunca foi opção, no “nosso mundo”!
Há quem diga que os movimentos feministas perderam a razão de existir, pois cumpriram seu papel em tempos de contracultura, nas décadas de 1960/1970, com garantias de supostas igualdades e oportunidades entre homens e mulheres, em tese, com a chegada triunfal da Constituição de 1988.
Entretanto, o que notamos e comprovamos é justamente o contrário. Ainda sofremos com violência (hoje amparadas por uma LEI de gênero), lideramos o ranking de desempregos, ocupamos a imensa minoria das cadeiras de representação política, temos salários mais baixos que dos homens, em grande parte das funções, além de jornadas de trabalho intermináveis.
E isso invalida o movimento de conquistas femininas? Jamais. Inclusive, tais conquistas pertencem a todas nós que seguimos lutando.
Entretanto nós, mulheres do séc. XXI temos grandes desafios pela frente. Mas, quanto à isso, não é novidade. Estamos acostumadas. Precisamos seguir buscando informação, educação política, emocional, social e econômica, ainda que seja para administrar nossos lares! Estarmos conscientes dos nossos direitos e deveres, nunca foi tão necessário.
Elegermos mais mulheres que nos representem, aponta uma estratégia inteligente, para que possamos cobrar de quem realmente entende nossas demandas. Como diria a ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet: “Uma mulher na política, muda a mulher. Muitas mulheres na política, mudam a política”. E com a devida licença poética, eu acrescentaria: Uma mulher na política, muda a mulher. Muitas mulheres na política, mudam a política e, mudando a política, mudamos a sociedade!
Estamos exaustas, pelo equilíbrio frenético dos “vinte e um pratos”. Nos cabe, então, escolher melhor os pratos que valem ser equilibrados.
Em tempo, para muito além de um Feliz Dia da Mulher, desejo que sua vida seja mais leve e plena. Com o equilíbrio de quantos pratos forem possíveis.